terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Quando o coro come em casa o pau canta na rua.

Consegue ajeitar a gola da camisa de maneira rápida, mas nunca atende os telefonemas dos pais.
Os horários são impecáveis, pontual em seu almoço, chegada e saída. Não tem uma namorada faz algum tempo.
Consegue driblar porres e chegar intacto na frente de seu chefe. É tão iminente a sua promoção que chega a causar inveja aos seus colegas.

Aprendeu a driblar paixões com doses durante o dia e jogou seu iPod pela janela do coletivo, não precisa mais de música para se concentrar o olhar é frio e o telefone agora só resolve problemas, uma máquina de fazer o dever, o maior orgulho dos chefes e a maior decepção das namoradas.Seu telefone deixou de ser um artigo pessoal e agora é corporativo,como sua alma.

Sempre com a barba feita,sempre sem paciência para pessoalidades e as tatuagens que carrega no corpo a família agora são um peso e alguns porta-retratos em cima de sua mesa. Seu cachorro não o reconhece mais, ele entende que toda vez que é promovido um pouco dele vira um pouco dos outros, mas em compensação a conta fica maior e ele supre carências afetivas e perdas cada vez mais com jogos novos e ingressos para clássicos no Engenhão.

Não é culpa dele, ele não percebe mais, já faz sem querer e os que estão a sua volta só se preocupam em não acordá-lo nas poucas horas que dorme,dorme pouco devido ao café, o mesmo café que tatuou, não dá pra ver tanta rebeldia por baixo da camisa bem passada.
Não liga o quanto você sofre, esqueceu-se dos afetos sem ler Spinoza. Ele só tem tempo para “O Globo”.

mario.

Um comentário:

Anônimo disse...

mas um dia a sorte no jogo diminui e o rapaz é quem vai passar a dar as cartas... né, rapaz?