sexta-feira, 26 de outubro de 2012

OI OI OI

Eu realmente durmo quando sento no ônibus, a viagem é longa e nós todos sabemos que a zona oeste é a roça do Rio de Janeiro, de onde nós, os caipirinhas, saímos todos os dias naquele movimento pendular torcendo pra chegar vivo à metrópole “maravilhosa”.


Não presto atenção e até acho chata a vista asquerosa que a Avenida Brasil nos proporciona quando faz o elo Cidade-Campo. Nada de Cracudos, nada de obras que não terminam, e nada de trânsito infernal, buzinas, nada de nada, eu só durmo!

Quando enfim ressuscito do mundo dos que não dormem estou teleportado a um novo panorama onde tem o cristo redentor, Cinelândia, porto e túneis que nos levam as melhores praias do país.

Não, nada disso! Só quero voltar pra casa e escutar o girar da chave da minha porta, rangendo e encontrar minha mãe no sofá me esperando, sem mais delongas sem agitação de baixo não sei o que, de alto não sei o que lá e de boemia carioca!

Só uso a cidade pra poder ter conforto na roça, dominada por podres poderes ainda há quem escute o velho Dylan por aqui e tome as melhores cervejas! Não ligo pra essa vã filosofia “lapacentrista”, até me divirto e se me chamar de repente até conseguirá me encontrar por um boteco desses rodando e torcendo meu cacho como dizia Cajú.

Nada contra a cidade do Rio de Janeiro, mas me sinto um sertanejo acuado nessa noite tão cheia de coisas e cores e prefiro minha roça com direito a cervejinha no rio da prata.

Mario.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Levavam a vida na esportiva, ficavam contando com a sorte.

Andando de lado, cuspindo entre os dentes e sempre com uma carta dentro do bolso. Assim caminha o malandro.
O malandro espera sempre que sua vida seja resolvida no poste, sem esforço, sem promessas, sem suor, só apostas.


Malandro não pisca pra não tomar volta enão toma, porém não sai do lugar nunca. Malandro não tem prole, e quando o acaso dá de ombros a prole é otária, deve ser uma maneira de a vida compensar os otários que o malandro já fez.

O otário treme na hora de falar pro malandro que ele está errado, o otário sabe o que diz! O malandro chuta e às vezes acerta, mas às vezes erra e o jogo é esse mesmo ou é tudo ou não é nada. Mas nada sempre é muito pouco pra quem perde tudo.
Malandro não arrisca alto e vive da sorte, dos dias de sol, da existência de um otário ou de alguma aposta bem sucedida.

A mulher do malandro só ensaboa, ameaça fugir, mas volta porque não tem jeito ela nasceu com esse carma de sempre estar onde sempre esteve e vai lá culpar, ela defende o malandro com unhas dentes e uma doçura dramática nas costas cansadas de apanhar.

Parecem felizes, às vezes. Ela mendigando atenção e ele fazendo mais do que ela merece, a prole otária não sabe de nada e nunca vai entender o mecanismo dessas mentes À frente do seu tempo, eles não arriscam e perdem. Como pode ser assim?

Malandro fecha o ciclo feliz, nunca esperou nada e acreditou em todas as crenças, não se arrepende e vai fazer até que o tempo volte pra fazer a cobrança pela vida. Custa caro viver sem saudades, custa bem caro viver sem ouvir.

Afinal, quem sabe de tudo?

Não, malandro, você não sabe de nada e talvez seja o mais otário dos espertos aquele tipo de ninja gordo que não é silencioso a pura patologia da esperteza, aquela não literal. A rua te ensina a ser esperto, mas a vida que te ensina a ser homem e convenhamos, a essa altura do campeonato a vida cansou de te ensinar e só te dá o acréscimo dos bobos, aquele acréscimo que você não vai usar...

Sem livros, sem filhos, sem amores, sem árvores... Cheio de passado, mas passou malandro.

E a mulher do malandro? Até o fim vai defender como Voltaire o direito do malandro viver como quer, como quis e dizendo sempre o que acha, mesmo sempre sendo chute.

É, não deu no poste.



Ass: O otário.